Não é difícil listar empresas que transformaram setores inteiros, mas nasceram em garagens, a partir apenas uma boa ideia. Netflix, Uber e Airbnb são algumas que fazem parte do rol.

De olho nesse potencial de inovação, cada vez mais companhias de grande porte buscam se aproximar de startups e convidar pessoas criativas para ajudá-las a desenvolver soluções para seus negócios.

 No Brasil, a Natura é uma das que estão seguindo por esse caminho. Na sexta-feira (13), ela lançou o programa Startups.

Trata-se de uma plataforma online na qual organizações iniciantes poderão apresentar suas propostas e, caso haja oportunidade, se tornar parceiras da fabricante de cosméticos.

A firma já mantinha contato com empreendedores há cerca de dois anos, mas agora decidiu formalizar a iniciativa. Hoje, ela interage com 33 startups de diversas áreas, sendo que 13 delas já estão ativas em algum projeto ou piloto.

Uma delas é a Já Entendi, do segmento de educação para adultos, que a ajudou a Natura a traduzir para suas revendedoras o conteúdo técnico sobre o lançamento da linha Tez, de cuidados com a pele.

Compartilhar processos de inovação, entretanto, é uma medida antiga na empresa.

Além do Startups, ela mantém ainda os programas Cocriando, por meio do qual os consumidores são chamados a auxiliá-la na criação de novos conceitos para sua indústria, e o Natura Campus, que estabelece laços com a comunidade científica para a descoberta de novas tecnologias.

Dentro deste último, que existe há quase uma década, a companhia já realizou duas maratonas de prototipagem, os chamados hackathons.

Do primeiro deles, voltado para o desenho de soluções que interligassem produtos à internet, nasceu a ideia de lançar um esquema para o público personalizar sabonetes, que deve chegar ao mercado em breve.

Já o segundo foi direcionado a conectar o consumidor à natureza e à linha Ekos, de itens feitos com ingredientes da Amazônia.

Nele, o projeto vencedor foi o de um sistema de cultivo de plantas com sensores que indicam quando elas precisam de mais água ou luminosidade, por exemplo.

Nesse caso, a solução não será aproveitada pela Natura, mas serviu para divulgar a marca Ekos e para estimular o pensamento inovador entre os funcionários que participaram do hackathon, segundo Luciana Hashiba, gerente de inovação da companhia.

“O que a Natura ganhou foi esse olhar do intangível. A gente se baseou em pesquisas que mostram que quem se engaja com a marca, passa a ser consumidor. É um caminho indireto, mas em que a gente acredita muito”, explicou.

Ela conversou com EXAME.com após o evento de lançamento do Natura Startups, na sede da organização, em Cajamar.

Um ponto polêmico das parcerias para criar produtos ou serviços é definir quem terá os direitos sobre o que surgir a partir delas.

De acordo com a Natura, quando uma startup apresenta a ela um conceito já desenvolvido, essa empresa continua sendo a única dona da ideia e atua como uma fornecedora.

Já quando a criação é compartilhada, a propriedade intelectual também é dividida.

A fabricante de cosméticos não abre o quanto aloca em cada projeto, apenas diz que os investimentos em inovação correspondem a cerca de 3% do seu faturamento – em 2015, as receitas líquidas foram de 7,9 bilhões de reais.

Mais cocriação

Outra empresa que conta com ajuda da comunidade criativa e de startups para melhorar seus processos é a Coca-Cola Brasil.

No ano passado, ela colocou no ar a plataforma de inovação aberta Open Up, em que lança desafios para o público solucionar.

Desse programa, surgiu uma parceria com Agrosmart, companhia que possibilita a produtores rurais controlarem as necessidades de suas culturas por meio de um aplicativo conectado a sensores instalados no campo e a dados meteorológicos.

A tecnologia de irrigação inteligente em breve será usada em plantações de maracujá de fornecedores da fabricante de bebidas no Espírito Santo.

Atualmente, a companhia está selecionando grupos que queriam participar de uma jornada de três dias em um barco pela Amazônia, com o objetivo de discutir iniciativas que impulsionem o desenvolvimento socioambiental da região.

Em relação à propriedade intelectual, a política na Coca-Cola funciona de forma parecida à da Natura.

“O dono da ideia é sempre quem a registra, o que não impede que as startups sejam convidadas a integrar a cadeia de parceiros da Coca-Cola”, explicou Luiz André Soares, gerente de valor compartilhado da companhia, durante o evento em Cajamar.

Para o executivo, a aposta em inovação aberta não substitui os tradicionais gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

“Tem lugar para tudo mundo. Investimentos mais sofisticados em tecnologia, por exemplo, requerem uma expertise diferente da oferecida por essa turma mais jovem”, disse.

De acordo com ele, a vantagem que as startups trazem para a cadeia da companhia são os “insights” que servem de ponto de partida para o desenvolvimento de programas mais amplos.

“Para o mal ou para o bem, a gente tem processos de grande complexidade na ponta, mas que começam muito simples”, afirmou.

A Coca-Cola Brasil não revela quanto gasta com esses programas.

Aplicar não é fácil

Há cerca de cinco anos, o Itaú montou um time dedicado a pensar como ele poderia se relacionar mais de perto com as novas gerações e se tornar mais conectado.

Em 2014, seguindo a linha de encontrar propostas criativas para seus processos, organizou uma maratona de programação.

O banco, porém, enfrentou desafios na hora de integrar as soluções que surgiram no hackathon a seu negócio e, por isso, decidiu não realizar uma segunda edição.

A experiência, entretanto, ajudou abrir a mentalidade da firma para o empreendedorismo interno.

“Ainda não sabemos o caminho, mas já conseguimos ver uma transformação no modo de pensar. Vender para um executivo que você quer fazer algo novo, mas não sabe que resultado isso vai trazer, não é fácil”, comentou Maria Julia Azambuja, integrante da área de estratégia e inovação da companhia, durante o evento da Natura.

Azambuja é uma das responsáveis pelo Cubo, ambiente de coworking e laboratório de incentivo à inovação mantido pela empresa que tem hoje 54 startups residentes. Para utilizarem a estrutura, elas precisam passar por uma seleção e pagar uma mensalidade.

Nomes como BASF e Ambev também apostam na inovação compartilhada.

Post original em: http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/para-inovar-grandes-empresas-pedem-ajuda-a-startups

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